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Brasileiros deportados em avião da Gol desmentem companhia


Brasileiros usavam roupas de presidiários e chegaram ao Brasil sem documentos
Brasileiros usavam roupas de presidiários e chegaram ao Brasil sem documentos

NOVA YORK - Brasileiros extraditados dos Estados Unidos que desembarcaram semana passada no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, afirmam que deixaram o país depois de serem coagidos a aderir a um programa de deportação voluntária lançado este ano pela Casa Banca. A medida, dizem, buscou acelerar a saída do grupo do território americano.


O Boeing737MAX-8 aterrissou em Confins na quarta-feira (27), sendo a primeira vez que uma empresa comercial prestou o serviço para o governo americano expulsar imigrantes.


Via assessoria, a Gol informou que fretou a aerenave para o o transporte de brasileiros que aderiram ao CBP One, programa que prevê a saída de estrangeiros dos EUA sem o risco de prisão e promente US$ 1 mil após chegar no país de origem.


A viagem foi computada como um fretamento convencional. "A companhia reforça que não há nenhuma distinção nos serviços entre estes voos com qualquer outro fretamento operado, sempre com foco na segurança dos passageiros", diz a nota da Gol.


Relatos mostram outro cenário

Mas os relatos e as condições dos brasileiros que desembarcaram em Belo Horizonte revelam outro cenário. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, eles também reclamaram das condições de transporte e dos maus-tratos durante o processo de deportação.


O desembarque, testemunhado pela reportagem da Folha, foi rápido. O grupo atravessou o portão em menos de 30 minutos. Eles vestiam uniformes usados em centros de detenções e traziam apenas uma sacola com alguns pertences. Nem todos portavam documentos.


Algum deles denunciam que foram coagidos a assinar a autodeportação já na entrada da aeronave, após a soltura das algemas pelos oficiais do ICE.


Erivelton Natalino da Silva, que morava com a esposa nos EUA havia mais de 20 anos --ela continua no país com duas filhas do casal conta que ele lutava para permanecer no país. Silva diz que os dois tinham o número do seguro social, necessário para residentes permanentes ou para trabalhadores temporários, e uma vida estável. Em janeiro, segundo ele, receberam a aprovação de mais cinco anos de permanência.


Tudo mudou em 6 de junho, de acordo com seu relato, quando foi abordado e preso. O advogado da família que cuidava do processo de residência definitiva entrou com uma petição para impedir a deportação, mas não adiantou.


Segundo a esposa, Erivelton já tinha sido submetido a três tentativas de deportação, mas, por ter um processo de permanência tramitando na Justiça, era impedido de embarcar. Então, a saída encontrada pelos agentes do serviço de imigração foi colocar o homem no voo de deportação voluntária, supostamente de forma clandestina.


Na quarta (27), sem documentos, ele desembarcou em Minas Gerais para surpresa da família, que não sabia do seu paradeiro e ainda tinha esperanças de que a situação fosse revertida.


Carlos Fagundes é outro brasileiro que estava no voo. Ele já havia passado por oito penitenciárias diferentes durante os três meses em que ficou detido. Enquanto aguardava a deportação, disse que fez os trajetos entre penitenciárias sempre algemado, em ônibus e sem alimentação ou água.


"Chegamos a ficar até 20 horas sem comer nem beber nada. A gente via a comida, a garrafa de água, mas eles não queriam nos dar. No voo de volta saímos às 6h e só fomos comer à meia-noite", disse. "Nos EUA não existe mais lei, nem de imigração."


Nos centros de detenção, afirmou, os brasileiros ficavam amontoados. "Era impossível ficar de pé. Se a gente ficasse, pisava nos outros. Foram muitos dias sem tomar banho e sem escovar os dentes."


Sem dinheiro nem passaporte, Carlos aguardava a esposa no saguão do aeroporto para voltar para sua casa no Espírito Santo.


Imigrantes relatam também que, assim como a higiene pessoal, a alimentação era restrita. Um colega de Carlos que não quis se identificar disse que as refeições do grupo consistiam em três sanduíches para todo o dia.


Alguns dos passageiros mostraram à reportagem da Folha uma cópia de um documento que dizem ter sido obrigados a assinar com instruções para a retirada do auxílio de US$ 1 mil. No papel, consta o endereço de email do Project Homecoming, o nome em inglês do programa para a saída voluntária.


Ainda no Aeroporto de Confins, em frente a uma casa de câmbio, alguns tentavam descobrir onde poderiam sacar o valor da ajuda. Enquanto outros, que ainda levavam alguma quantia em dólares, tentavam fazer a conversão para terminar a viagem.


Assim como Carlos Fagundes, Erivelton deverá ter dificuldades para receber o auxílio prometido pelo governo americano. Para conseguir acessar a quantia, a pessoa precisa enviar uma comprovação de que já está no país de origem, além de uma foto do passaporte, documento que eles não possuem mais.


Recuperação Judicial

Curiosamente, a Gol anunciou em junho ter concluído sua recuperação judicial nos EUA, processo conhecido como Chapter 11.


De saída, a companhia conseguiu US$ 1,9 bilhão em financiamentos por meio de um DIP —empréstimo oferecido a empresas em recuperação judicial.


O diretor-presidente da Gol, Celso Ferrer, afirmou, recentemente, que pretende fazer com que a empresa tenha 25% de seus negócios no exterior, uma forma de diluir os riscos da variação cambial e do combustível, comercializado em dólar.


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